25 janeiro 2009


Como num quadro, teu corpo pintado
Descansado, deitado, letrado
No canto um cigarro apagado
Abat-jour que ilumina
Tua simplicidade tão minha
Telefone antigo na mesinha
Papel por todo lado
Ali ao acaso
Teus dedos no ocaso
Já riscados pelo tempo ido
Pelo que foi e o que vem vindo
Esse ar de já vivido
E podia ser num quintal
Teus quintanares, um varal
Cores, flores, bichos, nenhum mal
Nada que se rasure do papel
Dessa tela, aquele céu
Na janela um véu
Cortina de renda
Pode ter sido uma prenda
Da tia da venda
Ou lá do Ceará
Por que será
Mário, quem lerá
Teus versos tão meus
Aqueles cantos teus
Esses nossos tantos eus
Quem comigo irá ver
As luas de morrer
De se perder
Pra se encontrar
E depois ficar
Com preguiça e amar
Nesse quadro de cama
Meu caro Quintana
A vida nos declama
Simplesmente!

Clarisse Lourenço