24 dezembro 2008

a menina dança



...porque seus dedos deslizam pela atmosfera livre com o vento, tomando de sedução o ar em cada canto, numa alegria inebriante de desalentos, num universo de encanto e fragmentos. que a cada volta que ela deseja dar, seu suor já escorreu por suas costas e seus cabelos envoltos por caracóis já são moldados numa espécie de arrepio. e de tanto dançar, ela encaixa seu quadril na mesma pele com o sol e pega com suas pernas ágeis os raios que ele alcança num debulhar. porque no seu ritmo já existe fogo e por ser fogo, ela não mede o movimento em partes e sim em formas, num esvoaçar de tecidos leves, que de tão leques, afastam num soprar dois corpos penetrantes.



eu acho que a mulher que conheço bem aqui, merece.
eu acho que as mulheres que nem conheço aqui, merecem.

19 outubro 2008

O Francês e o Passarinho

Um homem francês, de cabelo bem feito e roupa bem alfaiatada,
falou na língua bonita que é a francesa:
"L’homme est bon, c’est la société qui le corrompt".
Dicionário e...confusão...!
Me explica então, Senhor Rousseau,
quem corrompeu a sociedade se o homem nasceu sempre bom?
O passarinho preto de peito branco que canta no meu telhado
nasceu bom, mas não o sabe, apenas é.
Porque não há nada que ele possa pensar de ruim.
Se ele come o bichinho na terra, não é porque seja mau,
mas porque essa é simplesmente a sua natureza.
Se eu pensasse que ele é mau por comer minhocas é
porque eu penso, e pensar me faz classificar
as coisas como boas ou más.
E se eu pensasse assim, eu que como outros bichos,
teria de admitir que sou também um ser mau?!
Mas não sou! Ou sou e não o quero ser, ou sou e não o sei!
Pode ser até que eu cause algum mal, e causo...
Mas isso é um causo longo ou é só uma questão de ponto de vista.
Daqui de onde eu vejo, dessa janela com vista pro verde,
o passarinho é bom e eu também.
Daqui eu não penso no quanto os homens podem ser maus
e até brinco de acreditar no filósofo francês...
Mas vem logo outro a me baralhar as idéias:
"L'enfer, c'est les autres".
E o outro para o outro sou eu?
O inferno somos nós mesmos?
Penso, logo complico.
O passarinho preto de peito branco que canta no meu telhado
não pensa nisso e é bom. Não pensa e existe.
E eu que penso, desisto.
O passarinho canta e é bom.
Eu canto!
(-"Comme un oiseau sans cage, libre et sauvage...")

Clarisse Lourenço

17 outubro 2008

Ensina-me



O que eu já sou hoje e o meu tempo amanhã

E soma-se ao meu dia itinerante e febril

Daquele seu modo atemporal e viril

Que faz alçar o mais alto passado em minha mente sã

Ensina-me a querer-te mais que um plural

Ainda por cima desejar-te entre os dentes

Naquela desconjuntura carnal

Fazendo-me de seus olhos a alegria rente

Ensina-me o tudo do seu verso, contudo

Não me escolha num pretérito inconsciente

Mas prepare-se para trazer-me sua vida, o fruto

Com o qual perfeito sabor das suas frases pendentes

Ensina-me a caber em suas mãos leves de toque afável

Para que assim eu saiba caber-te em meu ventre

Pousando-te livre, cabelos e fios, textura ardente

Por entre dedos meus, fazendo-te amar do jeito suportável

Ensina-me as mais diversas obras do mundo

Coloque-se por cima de mim (mostre-me mais um mundo)

Que eu tomarei de calor o que se faz por vir

E terei para lhe entregar qualquer outra parte de mim

Ensina-me o que é feito, para depois me surpreender com o belo

Convivendo comigo entre dias dormidos e noites risadas

Transformando-se em nuvem alta, para a minha pele morena

Num vento brando rodopiando em tempestades armadas

Ensina-me a encontrar-te (a encontra-me), sem luz ou tato

Somente pela boca de uma madrugada finita, inquietante

E além disso, participe dos meus aconchegantes embaraços

E cante aqueles versos que falem de lua e do sol brilhante (é, aquele amante)

Ensina-me o que for, seja isso amor

Ou qualquer outra coisa que possa trazer-me o tal sabor

Ensina-me o que tiver, ou o que quiser

A viver ou a viver, a ceder ou a me render


Ensina-me o que ainda não sabe

E o que cabe, vale, cale...

13 outubro 2008

Pranto


Estou perdida.
Embriagada.
Ensandecida e inebriada.
Fazendo poesia
pra fazer você ficar.
Morrendo todo dia
Ao te ver sem te tocar.
Eu vou te prosear
Te apoiar
E te escutar.
Talvez eu aprenda a te cercar.
Mas o espaço
Nesse abraço
É pra evitar a dor.
Como pode eu te amar tanto?
Eu vou só secar meu pranto
Pra depois morrer de amor.



Florence Guedes

17 agosto 2008

Ele foi, sem pensar no que ficou pra trás.
Tirou da gaveta velhas fotos desbotadas,
deixou espalhadas,
como aqueles rascunhos amassados
de uma dor que já passou…
Ficou no ar o eco de tantas palavras sem som,
do tanto que não foi dito,
como um zumbido irritante em meu ouvido,
um agudo tão constante…
Foi, e o tempo passa, passa
sem passar nada mais que me faça
passar essa falta que me faz
sentir suado em mim o perfume gasto,
o gesto desfeito, o defeito do traço
e um de repente perdido
no vazio do espaço,
nessas rimas óbvias, lugares tão comuns,
tão clichés como um fim de novela…
Foi, e deixou por fazer a cama,
a grama, a dança, a canção,
um risco na palma da minha mão…
Deixou um monte de versos soltos
que sozinha eu tento, eu tenho que juntar
por ele, uma árvore pra plantar,
um livro pra escrever por ele,
um filho pra ter, por ele
um sonho pra acordar, por ele
uma vida pra viver
e dele, a distância de uma vida…

(sem dele ter a paz de sorrir o amor ao meu lado)



_(mais um trago)
…e eu só queria que essa dor se desmanchasse no ar
como a fumaça espalhada nesse imenso vazio do nunca mais…

13 agosto 2008

A você,
que frequenta meus sonhos
me fazendo sonhar
e não mais querer acordar...
A Você,
que vive da noite,
traz alegria às pessoas a sua volta,
Sua música é sua paixão
Tem nome de anjo
mas me enfeitiça com seu som...
É a fonte da minha inspiração
É a poesia mais bela
O presente mais quisto
O sorriso mais desejado
O desejo mais contido
O abraço mais apertado
As mãos mais carinhosas
O beijo mais esperado
A vida em liberdade
É o pássaro que voa
em busca de coisas novas
Mas sempre volta
Com aquele mesmo olhar
Com aquele mesmo jeitinho
Querendo um pouco de carinho
É Você a pessoa que quero ao meu lado
É com você que quero acordar
e abraçado com você dormir
Você me dá coragem
para superar todos os obstáculos
Enfrentar os desafios
Em você me fortaleço
E cada momento juntos me revigora
Me mantém viva
Me fazendo mulher
Mas mantendo a menina
A menina doce,
inocente,
pura,
apaixonada,
apaixonada por mim,
Por ti
e pela vida!

09 agosto 2008

Sapatilhas

Sapatilhas

Eu tenho pena da bailarina
Que tanto se arrumou
Que tantou ensaiou
E o soldado de chumbo
Nem reparou ela dançar
Ela chegou em casa triste
E esse amor que ainda insiste
Em seu corpo dilacerar
Pobre bailarina
Menina
Criança.
Depositou esperanças
Aonde não havia mais.
E ela prende lembranças
Com os dedos alcança
Não as deixa para trás
Bailarina, heroína
Bailando coisas da vida
E toda essa arte maluca
De fingir que não machuca...
Foi tanta atuação
E a sua alma, ali, morrendo
A luz no seu coração
Esvanecendo, esvanecendo...
Agora tira, bailarina
Toda essa purpurina
Toda essa tinta, bonita
Que lhe embelezava a tez
Arranca esse vestido
Fingido
Que o sonho acabou
Pesadelo se tornou
Sua dança se desfez.
Eu nem queria lhe falar
Porque sei que dói demais
Mas pendure as sapatilhas
Pois não vai sapatilhar
Para o soldado jamais.
A magia terminou
O baile acabou
E a dança foi em vão.
E agora, bailarina
Não desatina.
Pendura as sapatilhas
Coloca os pés no chão.

Florence Guedes

09 julho 2008

d e s p i d a

despida
me
despeço
de
mim

eu
enfim

infinita
mente

divina
mente

nua

15 junho 2008

...

Tenho medo do vento
Da chuva fria que aquece
Do que finjo não ter
De ser, de esqueço, do tempo.
Me apavora a solidão confortável
O barulho vazio
O pingar da água
O vermelho do estio
Onde deito escurecida.
Me apavora o amor que espalho
Sem nem sequer saber que tive…
Essa inocência querida
Essa porção reservada.
Me apavora o que não acredito
O que lembro distante
O que passa apressado
O que não consigo constante
O que me faz achar graça.
Me apavora a pisada
Na terra tão nua
Tão crua de paz.
Me apavora o pensamento preciso
O instante indeciso
O vácuo nos braços
Que se fecharam depois…
Tenho medo do sono
Do sonho bem-vindo
De acordar no domingo
Sem nada nas mãos.
Tenho medo da lua
Da noite mais bela
Da cor amarela
De um girassol.
Tenho medo do pavor
De ter o medo que tenho
E ser medo assim
Amando demais
Perdendo demais
Ganhando mais
Do que cabe em mim…
(e essa vontade de chorar…)

26 maio 2008

Telas e cafés.

Bom, é a minha estréia aqui nesse café, então vou tentar postar alguma coisa bem alegre!
Ontem de manhã eu resolvi pintar. Não sou boa nisso, mas me divirto pintando, e isso já é o suficiente pra animar o meu dia inteiro! E, entre uma cor e outra na tela, eu fui rabiscando umas palavrinhas sobre o que eu estava fazendo...


Pintando o sete

Eu tinha uma tela
Nua
E crua.


Eu tinha uma tela
Pálida
Eu tinha uma idéia
Válida.
Eu tinha uma tela
Inanimada
Mas tinha uma idéia
Válida.


Eu usei um macacão azul
Que depois ficou colorido
Nos meus dedos, tantas cores
Assim como em meu sorriso...
Eu cantei por toda a manhã
Enquanto dava uma alma à tela
Era branca, era uma chance
E foi ficando, assim, tão bela

Eu tinha uma tela
Rosada
Eu tinha uma idéia
Usada
Eu tinha uma tela
Crescente
Eu tinha uma idéia
Na mente.

Eu fui fazendo cogumelos
E fiz uma clave de Sol
Fiz uma fada tocando
Flauta em um girassol
Aos poucos foi tudo ganhando
A vida que eu queria dar
Flores na tela dançando
E uma brisa leve a soprar

Eu não tinha mais uma tela
Sem vida
Eu tinha apenas poesia
Linda.
Eu não tinha mais uma tela
Sem graça
Eu tinha um lugar só meu
Minha praça

Eu fiz sabores e fiz sons
Fiz um céu que não tinha fim
E eu poderia jurar
Que aquela fada sorriu pra mim
Eu fiz um caminho no ar
De notas musicais
Fiz borboletas e libélulas
Círculos e espirais
Nessa manhã de domingo
Eu me senti um pivete
Foi sorrindo e cantando
Que eu pintei o sete.

Da tela branca
Eu fiz baluarte.
Eu tinha a vida,
Eu tinha a arte
nas mãos.


(Florence Guedes)


***

E, já que é de praxe
Pedir café por aqui
Quero o meu com biscoito
E coberto com chantilly!

25 maio 2008

ande sempre para o sol

Silenciosamente, o caminho parece mais longo, os passos ainda mais raros, o objetivo torna-se ainda mais atraente.

Há alimentos para o corpo em tudo que não se move, há alma nas árvores, há o espírito da luz. A imagem que se torna ao redor é a sua e o que se toma como segurança é o que o faz enfrentá-lo.Adoraria escutar o som das luzes, a voz dos roucos, a vibração do sol.

Faria de tudo para tremer meus pés junto à terra escura e úmida, a fim de impressionar meu corpo que estaria engendrado no tempo. Sustentaria o excitamento dos meus olhos ao tocar o que é real para eles e, imaginando o melhor, escolheria uma razão para encontrar meu amigo perdido.

...Ficariam lindos os céus, cujo as núvens se entrelaçam para dissolverem-se....Tornariam-se ainda mais atraentes as frases perfeitas, se não fossem ditas com tanta ansiedade.

Falta coragem para encarar a liberdade e sobram saltos para a descoberta de novos anseios. Como se experimentar o sal da sombra fosse o contrário de uma dúvida, onde há sempre uma expressão. Então, até quando os ouvidos permanecerão fechados para possíveis e doces realejos?

Somente um andar nupcial para o reencontro do seu corpo com o universo te fará chegar. Uma conexão alada, uns versos sem nada, fotografias armadas...assim será.

Ande sempre para o sol que engole teu sorriso e te leva ao luar, que promete segredos, que desdenha o pensar. Cruze suas pernas, saiba extamente onde está, deseje a paz sem sentido, mas sentindo...sinta o que for irreal, conclua o amor por você.

O sol é...dentro de...sempre com...perfeito para...encontre você.




_um café quase gelado, direto do cerrado.

24 maio 2008

Cantador e Bailarina

(todo samba, cada esquina)

Ela some, ele distância
Ela ama, ele ainda
‘inda que parece que finda
Ele pega a rua e vai
Ela pára no ponto e agonia
Em meio o trânsito da lua
Ela, bailarina em cada samba
Ele, cantador de toda esquina
Rodaram no salão sem melodia
Pegaram seus caminhos (sem guia)
E foram…, um lado e outro
Sonata em fuga, contraponto de Bar

Ela quer sambar pela noite
Virar os olhinhos que ele não vê
Ela quer fingir
Veja não
Sai por aí derramando a razão
De tanta insensatez
Ele vai se entregar num canto
Rir a emoção, ela não vai perceber
Ele quer partir
Ouve não
Entra por aqui espalhando a paixão
De tanto invés

Disseram que é delicada
Falaram que é um bom moço
Acharam que tinha um mote
Ensejo em cada retorno
Gente enganada de poesia
Ela vai pretender que não liga
Ele vai procurar distração
E todo mundo acredita
Que essa coisa de amor…, nada não
Ele é cantador, ela é bailarina
Ela baila cada esquina
Ele canta todo samba

(Ai se soubessem como se encontrar…)

Clarisse Lourenço

_Um café-moça, nesse dia frio, esse Dia Nacional do Café...!

["...ela desatinou... viu morrer alegrias, rasgar fantasias, os dias sem sol raiando... e ela inda está sambando..."]

13 maio 2008

Se as coisas fossem mães

Silvia Orthof

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas.
O céu seria sua casa, casa das estrelas belas.

Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos.
O mar seria um jardim e os barcos seus carrinhos.

Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas.
Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas

Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins.
Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins !!!!

Se a terra fosse mãe, seria a mãe das sementes.
Pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria a mãe da alegria.
Toda mãe é um pouco fada...

Nossa mãe fada seria.
Se a bruxa fosse mãe, seria uma mãe gozada;

Seria a mãe das vassouras, da família vassourada.
Se a chaleira fosse mãe, seria a mãe da água fervida,

Faria chá e remédio para as doenças da vida.
Se a mesa fosse mãe, as filhas, sendo cadeiras,

Sentariam comportadas, teriam boas maneiras.
Cada mãe é diferente. Mãe verdadeira ou postiça,

Mãe vovó ou mãe titia,
Toda Mãe é como eu disse!

Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa,
Cozinha, escreve, trabalha fora,

Ri, esquece, lembra e chora,
Traz remédio e sobremesa...

Assim é a minha mãe !!!

26 abril 2008

Gente

Gosto de gente simples
que sabe rir sem medo
que ama como por instinto
naturalmente...
Gente livre, pessoa
que sabe ficar à toa
e dá valor
ao que só por existir é belo
que vela o sono das noites
e sorri quando vem o dia...
Gente que vive porque há vida
simplesmente...

Clarisse Lourenço

19 abril 2008

Desacato

Desacata a minha voz
Um nó em nós
Impulso desmedido de uma dor
Que me passa na pele cansada
Ao pé do ouvido, escondido
Sussurros
Esse rascunho sempre inacabado
Presente mal comprado
Pela palma da mão
Um ponto final e depois mais dois
Direção de atalhos cortados
Retalhos sem costura
Desmesura
Mistura isto naquilo
Que é tão triste
Por que é tão lindo
Retro-sonho
Anacrônico
Inventa um caminho
Pra continuar
No chão das memórias futuras
Aquilo que não se viveu
Desacata a minha vida…


Clarisse Lourenço
(ao poeta sem palavras)

18 abril 2008

Ponto com Nó


Quando a música entra, penetra, sem pedir licença... uma desavença entre a paixão e o amor. Acontece qualquer coisa que aquece, que embeleze a vida a melodia em poesia da canção, e traga à pele uma relevância de emoção... um Ponto com Nó... na garganta, espanta a dor em vão e traz uma avença entre a paixão e o amor. Ponto com Nó, um dia só, só todos os dias, para que haja valor...


Para que haja valor
(Guido Martini/Gabriel Tauk)

Para que haja valor
Tem que deixar no ar um certo frescor
Um sopro leve,
Que leve a pele a sentir calor
Para que pare nas praças
E caia nas graças de alguém distraído
Tem que fazer sentido ao pé do ouvido
Seja lá o que for
E se for de amor
Que fale ao menos pelo tom da poesia, bonita
Das promessas da vida
Traga um livro com memórias esquecidas
Perdidas… Bonitas… Perdidas
Para achar solução
Tem que buscar o ar, encher o pulmão
Pois só consegue quem cega e segue a intuição
Para que tome as praças e devolva a graça
O sangue e o pão
Tem que ser sentido, sonhado, sofrido
Suado o perdão
E se for de lutar
Que seja sempre pelo som da melodia, bandida
Das promessas de um livro
Traga à vida as ideias esquecidas, vendidas, bandidas
Vendidas
E se for de amor
Que fale ao menos pelo tom da poesia
Das promessas da vida
Traga um livro com memórias esquecidas
E se for de lutar
Que seja sempre pelo som da melodia
Das promessas de um livro
Traga à vida as ideias esquecidas
Bonitas… Perdidas… Bandidas… Vendidas

(obrigada por essa "avença", seu moço Guido!)

12 janeiro 2008

Ela me disse assim...

Voltando ao café, depois de uma longa temporada de férias (?)... Estou eu sentada em minha habitual mesa do canto, sozinha, olhando pro chão, bebendo um café curto com canela e entra ela, ela assim sem avisar nem por pressentimento, senta barulhenta e sem nem parar para um suspiro (meu talvez), ela me diz assim:

_Olha que coisa mais linda.
(não, não era Garota de Ipanema!), e declama:

AR DE NOTURNO

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado
meu coração frio.

O que é isso que soa

bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho ?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa

bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !

Garcia Lorca

E eu?... eu olho pro céu e deixo chover!
(E depois ela me diz que não sabe o por quê nem como eu gosto dela tanto assim...!)

_Dois Irish Coffee, por favor... e truffas para acompanhar!