28 junho 2009

caligrafia...




Era uma folha de papel branco. A caligrafia desenhada ao acaso preenchia-lhe grande parte do espaço. Uma poesia. Ou seria uma canção? Talvez uma tristeza que lhe tenha saltado brutalmente na delicadeza das palavras. Um ar de quem aceita, um tom de quem se revolta. Quem poderia saber? Escreveu sua dor com tanto zelo que não poupou-lhe um ritmo fácil, trovável a milhares de vozes. Concedeu-lhe a amizade incomparável da melodia. Nunca mais separaram-se. Continuaram unidas invariavelmente… Lacrimejam-lhe suas próprias letras sobre o papel. Choram-lhe seus próprios acordes. Se soubesse a dimensão que sua caligrafia tomaria, lhe teria escrito a ela a poesia? Se soubesse o desenho ferido que suas letras marcariam em sua pele, lhe teria cantado a ela a melodia? Não pensou. Há vezes em que simplesmente não se pensa em nada. Se faz e sopra ao vento. Que não sabia o que aconteceria ali mais além, logo depois. Não poderia saber. Foi assim que lhe enviou a folha de papel branco preenchida em grande parte do espaço pela caligrafia desenhada ao acaso. Recebeu com lágrima a poesia. Como uma mistura da dor e da alegria de sentir aceitação e revolta. Recebeu com lágrima a melodia. Um espanto do que causou, uma tristeza de perder de vista. Queria fossem lágrimas de volta. Queria fosse o amor encantando seus olhos. Era de despedida. Poesia e melodia. Para ela, um aceno de adeus. Uma folha de papel branco, a caligrafia desenhada ao acaso esvaziava-lhe grande parte do espaço de uma vida.