Ele foi, sem pensar no que ficou pra trás.
Tirou da gaveta velhas fotos desbotadas,
deixou espalhadas,
como aqueles rascunhos amassados
de uma dor que já passou…
Ficou no ar o eco de tantas palavras sem som,
do tanto que não foi dito,
como um zumbido irritante em meu ouvido,
um agudo tão constante…
Foi, e o tempo passa, passa
sem passar nada mais que me faça
passar essa falta que me faz
sentir suado em mim o perfume gasto,
o gesto desfeito, o defeito do traço
e um de repente perdido
no vazio do espaço,
nessas rimas óbvias, lugares tão comuns,
tão clichés como um fim de novela…
Foi, e deixou por fazer a cama,
a grama, a dança, a canção,
um risco na palma da minha mão…
Deixou um monte de versos soltos
que sozinha eu tento, eu tenho que juntar
por ele, uma árvore pra plantar,
um livro pra escrever por ele,
um filho pra ter, por ele
um sonho pra acordar, por ele
uma vida pra viver
e dele, a distância de uma vida…
(sem dele ter a paz de sorrir o amor ao meu lado)
_(mais um trago)
…e eu só queria que essa dor se desmanchasse no ar
como a fumaça espalhada nesse imenso vazio do nunca mais…