17 outubro 2008

Ensina-me



O que eu já sou hoje e o meu tempo amanhã

E soma-se ao meu dia itinerante e febril

Daquele seu modo atemporal e viril

Que faz alçar o mais alto passado em minha mente sã

Ensina-me a querer-te mais que um plural

Ainda por cima desejar-te entre os dentes

Naquela desconjuntura carnal

Fazendo-me de seus olhos a alegria rente

Ensina-me o tudo do seu verso, contudo

Não me escolha num pretérito inconsciente

Mas prepare-se para trazer-me sua vida, o fruto

Com o qual perfeito sabor das suas frases pendentes

Ensina-me a caber em suas mãos leves de toque afável

Para que assim eu saiba caber-te em meu ventre

Pousando-te livre, cabelos e fios, textura ardente

Por entre dedos meus, fazendo-te amar do jeito suportável

Ensina-me as mais diversas obras do mundo

Coloque-se por cima de mim (mostre-me mais um mundo)

Que eu tomarei de calor o que se faz por vir

E terei para lhe entregar qualquer outra parte de mim

Ensina-me o que é feito, para depois me surpreender com o belo

Convivendo comigo entre dias dormidos e noites risadas

Transformando-se em nuvem alta, para a minha pele morena

Num vento brando rodopiando em tempestades armadas

Ensina-me a encontrar-te (a encontra-me), sem luz ou tato

Somente pela boca de uma madrugada finita, inquietante

E além disso, participe dos meus aconchegantes embaraços

E cante aqueles versos que falem de lua e do sol brilhante (é, aquele amante)

Ensina-me o que for, seja isso amor

Ou qualquer outra coisa que possa trazer-me o tal sabor

Ensina-me o que tiver, ou o que quiser

A viver ou a viver, a ceder ou a me render


Ensina-me o que ainda não sabe

E o que cabe, vale, cale...

Um comentário:

. disse...

sutilmente impactante. Absurdamente lindo.